Expectativa da safra 22/23 e seus impactos para as cooperativas agro em Mato Grosso
Artigo: Ricardo Pereira, Analista de Mercados OCB/MT
O Estado de Mato Grosso é líder em produção agropecuária em âmbito nacional, e o desempenho das lavouras refletem substancialmente na performance econômica estadual, seja na arrecadação de impostos, crescimento do PIB, bem como na geração de empregos, e o cooperativismo tem participação direta nesse cenário, em razão de que, aproximadamente 45,1% da produção agrícola mato-grossense é oriunda de cooperativas agrícolas, segundo o Censo das Cooperativas Agrícolas de Mato Grosso do ano de 2018, realizado pelo Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea) em parceria com o Sindicato e Organização das Cooperativas Brasileiras do Estado de Mato Grosso (OCB/MT).
Em fevereiro de 2023, a OCB/MT contabilizou 170 cooperativas associadas à entidade, sendo 48 destas do segmento agropecuário, o que representa 28,0%, focadas na produção de soja, milho e algodão, assim como desenvolvem outras culturas, entre elas: feijão, arroz, cana-de-açúcar, entre outras. Ainda, segundo o Censo, cerca de 69,5% dos cooperados associados às cooperativas agrícolas possuem áreas de até 1.000 hectares.
No tocante ao ano agrícola atual – safra 22/23 –, estima-se que a produção estadual continue com tendência de alta, uma vez que o Imea aponta um volume de 91,17 milhões de toneladas para as três principais culturas cultivadas no Estado: soja, milho e algodão, avanço de 3,8% ante ao ciclo 21/22.
Com relação a cultura da soja, que é praticada na 1ª safra e possui a segunda maior produção agrícola estadual, estima-se um volume produzido de 42,82 milhões de toneladas na temporada 22/23, um incremento significativo de 4,7% (+1,93 milhão de toneladas) em relação a 21/22.
O cenário altista na produção foi possível tendo em vista o aumento de 2,95% na área semeada na temporada atual, uma vez que a projeção de quebra de safra na Argentina e os sinais de aquecimento na demanda chinesa pela soja brasileira contribuíram para a melhora da expectativa dos sojicultores mato-grossenses, levando-os a semearem 11,81 milhões de hectares. Além disso, projeta-se uma produtividade recorde para a cultura, de 60,43 sc/ha, por causa dos investimentos realizados pelos agricultores nos últimos anos, visando a maior inserção tecnológica nas lavouras.
A nível regional, a macrorregião médio-norte (principal polo de cooperativas agro de MT) aponta o maior crescimento produtivo em termos de volume ante o ciclo anterior, com um incremento de quase um milhão de toneladas – 0,886 milhão de toneladas (+7,51%) –, e produtividade de 61,03 sc/ha, a maior média em âmbito estadual.
Na cultura do milho, a estimativa inicial indica que o volume produzido do cereal atinja 46,41 milhões de toneladas este ano (safra 22/23), registrando pela segunda safra consecutiva recorde de produção e volume superior ao observado na cadeia da soja. Esse resultado representa um crescimento esperado de 5,9% - o equivalente a 2,57 milhões de toneladas – no comparativo anual, em virtude do aumento de 3,8% na área semeada, totalizando 7,42 milhões de hectares, assim como pelo aumento de 2,0% na produtividade, que está estimada em 104,29 sc/ha, a maior das últimas três temporadas.
Como dito anteriormente, a macrorregião médio-norte possui a maior quantidade de cooperativas em relação as demais regiões de Mato Grosso, com representatividade de 38,8%, seguida pela região sudeste, com uma participação de 30,6%, sendo estas as que tendem a se destacar neste ciclo produtivo (22/23), caso não haja mudanças climáticas desfavoráveis ao desenvolvimento das lavouras. Nesse viés, projeta-se um incremento de quase meio milhão de toneladas de milho (+3,0%) na médio-norte, ao passo que o maior destaque ficou com a sudeste, visto que estima-se um crescimento de 0,726 milhão de toneladas (+10,33%) no comparativo anual.
Vale observar que a projeção de crescimento na cultura do milho para o ano safra 22/23 esteve atrelada a menor oferta mundial do cereal, uma vez que esse movimento deu suporte às cotações e estimulou os produtores a aumentarem sua área em relação à safra passada. Ainda, a situação das lavouras no Rio Grande do Sul e na Argentina sinalizam quedas bruscas de produtividade na temporada atual, o que por outro lado se apresenta com uma oportunidade de novos mercados para os produtores rurais cooperados e agricultores em geral no Estado de Mato Grosso.
Já na cotonicultura o cenário para a 22/23 é diferente: redução de área e aumento na produção. Nesse sentido, estima-se que a área destinada ao algodão seja de 1,11 milhão de hectares, evidenciando assim uma queda de 5,57% no comparativo anual. Isso porque, as desvalorizações no preço da fibra de algodão nos últimos meses impactaram na tomada de decisão dos cotonicultores do estado, principalmente dos produtores cooperados, que detém 62,6% da área de algodão do estado, segundo o Censo de 2020.
Além do mais, o atraso na semeadura em comparação com as safras passadas elevou o risco de exposição da cultura ao estresse hídrico, o que por sua vez, levou o algodoeiro a optar pela redução de área de algodão e realocá-la, ao menos em parte, na cultura do milho.
Com relação ao rendimento das lavouras, ainda é cedo para definir o valor médio de produtividade, em virtude de que assim como no milho, as projeções podem sofrer reajustes até a colheita. Apesar disso, é estimada uma produtividade de 115,76 @/ha de pluma de algodão, avanço de 12,77% perante a safra 21/22, o que foi fundamental para o aumento na produção mesmo com a redução de área. Dessa forma, a produção estimada para a fibra na temporada atual é de 1,94 milhão de toneladas, um aumento considerável de 6,80% (0,123 milhão de toneladas) sobre o ciclo produtivo anterior, influenciado sobretudo pela região oeste, com expressivo aumento de 18,1% na produção (+0,100 milhão de toneladas).
Sob a ótica da comercialização, ao observar as negociações de soja, milho e algodão, nota-se que os produtores rurais mato-grossenses têm se antecipado cada vez menos desde a temporada 21/22, em razão de buscar negociar melhores preços para o seu produto, dado que em safras anteriores, uma parte considerável deles viram a pluma em processo de valorização, quando já tinham travado seus preços. Ainda, momentaneamente o produtor tem tido menor necessidade em fazer caixa, o que lhe traz maior flexibilidade quanto as negociações e refletido em uma comercialização mais amena. Portanto, com relação à safra atual (22/23), praticamente a metade da produção de soja e algodão e mais de 70% da produção de milho ainda precisa ser comercializada.
Ao analisar a comercialização dos insumos para a safra futura (23/24), os preços dos fertilizantes, e em menor intensidade, dos defensivos agrícolas, têm apresentado tendência de queda, cenário inverso ao percebido durante a maior parte da janela de compras de insumos da 22/23, quando houve o encarecimento vertiginoso dos custos de produção, que chegaram a níveis nunca vistos anteriormente. De qualquer forma, a retração nas cotações dos insumos se deu a partir do 2º trimestre de 2022, visto que a cadeia de suprimentos e o setor logístico internacional conseguiram se adaptar aos imbróglios da crise da Covid-19 e da Guerra na Ucrânia, e retomaram os envios de forma mais célere.
Ainda assim, mesmo com a retração nos preços de parte dos insumos, os produtores cooperados e agricultores em geral estão com atrasos na comercialização destes. Por outro lado, isso é natural
para a época do ano, quando os trabalhos a campo (colheita e semeadura) demandam mais tempo e atenção dos produtores. Aliado a isso, existe a expectativa de que os insumos continuem com tendência de queda (principalmente os defensivos), inclusive, o preço do frete marítimo também está em baixa, o que pode contribuir para aliviar as cotações de produtos agrícolas importados e suavizar a relação de troca das commodities com os seus respectivos insumos.
Portanto, ao que tudo indica a temporada 22/23 no Estado de Mato Grosso será marcada por grandes volumes produtivos de soja, milho e algodão, caso os fatores climáticos não apresentem mudanças bruscas e afetem a produtividade das culturas de 2ª safra. Mesmo com o maior volume esperado de colheita, os produtores estão retraídos nas comercializações, visando negociar melhores preços para os seus produtos, uma vez que os insumos de produção utilizados na lavoura foram adquiridos em níveis elevados, o que estreitou a margem estimada da atividade da temporada. Semelhantemente, a comercialização de insumos para a 23/24 (safra futura) também está lenta, na expectativa de que os preços dos produtos importados continuem a ceder e possam melhorar a relação de troca ao produtor.
Mediante a esse cenário, a atenção constante ao mercado por parte das cooperativas agrícolas é fundamental, a fim de auxiliar os produtores nas compras e vendas, não necessariamente para conseguir o maior preço da commodity e o menor preço do insumo, mas para garantir um preço de equilíbrio que garanta a rentabilidade do produtor rural cooperado.
Assista a Live as Perspectivas para a safra 23/24
Quem não pode participar da live, pode assistir no Canal de Youtube Sistema OCB/MT.
Basta clicar neste link: https://www.youtube.com/watch?v=JU9QP54x8_s
BIBLIOGRAFIA
CONAB, Companhia de Nacional de Abastecimento. Séries Históricas das Safras. Disponível em: https://www.conab.gov.br/info-agro/safras/serie-historica-das-safras#gr%C3%A3os-2. Acesso em: 02 de fev. 2023.
IMEA, Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária. Séries Histórica. Disponível em: https://portal.imea.com.br/#/serie-historica. Acesso em: 22 de fev. 2023.
IMEA, Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária. Censo das Cooperativas Agrícolas de Mato Grosso. Cuiabá, MT. Imea, 2020, p. 96.